INTERPRETAÇÃO DE EXAMES LABORATORIAIS 

Em uma publicação antiga ( aqui ) que falei sobre Perfil Lipídico, acabei pincelando algo sobre a análise dos Exames Laboratoriais, mas hoje gostaria de falar um pouco mais afundo sobre isso. 

Não melhor ou pior, mas diferente de muitos profissionais da área da saúde, aprendi a ler os Exames Laboratoriais de forma holística. O que isso significa?! Que entre eles existem relações, não podemos avaliar isoladamente nenhum valor. Por exemplo, um marcador hepático não diz respeito apenas ao fígado, assim como uma proteína ligadora de hormônios sexuais (SHBG) não me fala apenas sobre perfil hormonal. A leitura dos exames deve, antes de mais nada, vir acompanhada da avaliação clínica e do histórico do paciente. Ler exames, ou melhor, ver números, sem um paciente na sua frente (ou com o paciente já em acompanhamento) não faz sentido para mim… claro, alguns itens são padrões e, se estiver ruim, está ruim mesmo e ponto final, mas tem muita coisa que não é bem assim.

Vamos falar do Valor de Referência, adoro falar sobre ele. Vocês sabiam que o Valor de Referência muda entre os laboratórios, hospitais, cidades, estados e países!? Ok, entre os países eu até entenderia. São raças e contextos completamente diferentes mas… dentro da mesma cidade, porque existem laboratórios com valores diferentes?! Não estou dizendo diferente na unidade usada (Ex. mg/dl ou g/L), estou dizendo o Valor Mínimo e Valor Máximo. Seria esquisito se estes números estivessem medindo realmente algo, pois eles não passam de valores de estatística. Isso quer dizer que, dentro de um número “x” de pacientes que passaram por aquele laboratório, a maioria se encontra dentro daquele range. Agora faz mais sentido porque estes valores oscilam tanto, certo?! Se pensar que existem laboratórios que atendem um público de valor socioeconômico superior, outros classe baixa… outros no interior, com hábitos muito diferentes etc, faz sentido estes valores serem diferentes! Portanto, se você se encontrar dentro do range do seu laboratório, significa que você está tão saudável ou tão doente quanto a maioria das pessoas que passaram por ali. 

Deixa eu explicar melhor… vamos usar exemplos práticos – vou usar valores de referência de um Laboratório bom em São Paulo que tenho muito contato no consultório e sei os números de cabeça:

  • INSULINA – Valor de Referência: 2 a 25mg/dl
  • COLESTEROL TOTAL – Valor de Referência: <190mg/dl 
  • FERRITINA – Valor de Referência: 15 a 150 mg/L
  • TESTOSTERONA LIVRE – Valor de Referência: 2,5 a 35 pmol/L

Dado estes números, vou falar sobre eles. Insulina, dentro da visão funcional (Medicina & Nutrição Funcional) acima de 7mg/dl já deve ser observada com outros olhos e, obviamente, associada à Hb Glicada, PcR, GGT e Glicose. Como um paciente com Insulina 2 mg/dl pode estar tão saudável quanto um paciente com Insulina 25mg/dl, sendo que quanto mais Insulina produzimos, maior as chances de Diabetes Tipo 2 no indivíduo?

Colesterol Total está melhor explicado no post anterior ( aqui ), mas pincelo aqui novamente. Quanto mais baixo melhor?! Estudos muito bem delineados e sérios apontam que, Colesterol Total baixo demais está diretamente relacionado à diminuição na produção de Hormônios Sexuais e aumento de casos de Depressão. Se o meu Colesterol Total é 220mg/dl e meus níveis de Glicose, Triglicérides, PcR, Glicose e Hb Glicada estão excelentes… eu deveria me preocupar?! Obviamente que não, mas muitos cardiologistas ainda imploram para o paciente consumir Estatina (medicamento para baixar Colesterol), mesmo sabendo de todos os efeitos adversos (como demência, depressão, gap de memória, dores musculares, queda de libido, performance, força…)

Ferritina é outro ponto importante. Uma pessoa com 20mg/L de Ferritina pode até não estar anêmica, mas com certeza a sua Glândula Tireóide não está funcionando de forma perfeita, isso porque a conversão de T4 em T3 exige Ferro, e níveis abaixo de 70mg/L já se mostram insuficientes para esta função, bem como níveis altos de Ferritina não me mostram em nada se esta pessoa está longe de estar com anemia, ou está com muito Ferro no sangue. Aliás, na maioria das vezes, níveis elevados de Ferritina me mostram apenas uma inflamação, que pode vir acompanhada de níveis BAIXOS de Ferro Sérico – caso a pessoa não esteja absorvendo este mineral por uma inflamação intestinal, por exemplo.

E, por fim – poderia ficar dias falando sobre isso – a Testosterona Livre, que mesmo num laboratório tão bacana como este (devo ressaltar que o Valor de Referência não quer dizer se o laboratório é bom ou ruim) o Valor de Referência para a Testosterona Livre em mulheres admtite 2,5pmol/L como normal… Normal!? Será que uma mulher com níveis tão baixos de Testosterona está vivendo com sua libido boa?! E sua performance mental e física, força, plasticidade cardíaca, calcificação óssea adequada!? É claro que não… mas porque este valor tão baixo é considerado normal?

Vamos lembrar que estes números são estatísticas e, se muitas mulheres utilizam contraceptivos orais – que baixam absurdamente os níveis de Testosterona – o Valor de Referência está sendo afetado. Assim como o uso indiscriminado de Estatina afeta o Valor de Referência do Perfil Lipídico e, o padrão alimentar afeta a Insulina (exagero de Carboidratos refinados) e Ferritina (deficiência de folhosos verde escuro, mesmo que consumo de carne vermelha exista, a absorção as vezes é baixa pelo indivíduo inflamado…)

Espero que eu tenha conseguido esclarecer um pouco sobre este vasto mundo da Interpretação de Exames Laboratoriais. E deixo um recado: não analisem sozinhos os seus exames. Não joguem no Google… Sempre retorne ao profissional que os solicitou, ele sabe porque pediu e saberá associar os valores!

Seu corpo. Seu templo. 
Cuide-se.

 

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